sábado, 29 de maio de 2010

O diamante versus a porcelana

Sinto muito ser eu a lhe dizer:

O que talha o ser diamante

Não está no seu duro entender

Fuligem é o estado da mente

Jamais carvão.


Fluidez eu tenho a lhe oferecer:

O eco que faz ilha o instante

São asas quando existe o querer

Barragem se o verbo é implante

Não mais ação.


Palavra é só o que respinga

A água que inunda a boca

contém a saliva

A boca que modela o beijo

também é língua

A roda que move o desejo

não é cíclica.


Nem só porcelana é que racha

É faxina que não cessa em vida

Juntar meteoritos de confiança.


Nem só a vista é que flagra

É posologia que não termina

Juntar indícios de ignorância.

O diamante versus a porcelana

Sinto muito ser eu a lhe dizer:

O que talha o ser diamante

Não está no seu duro entender

Fuligem é o estado da mente

Jamais carvão.

Fluidez eu tenho a lhe oferecer:

O eco que faz ilha o instante

São asas quando existe o querer

Barragem se o verbo é implante

Não mais ação.

Palavra é só o que respinga

A água que inunda a boca

contém a saliva

A boca que modela o beijo

também é língua

A roda que move o desejo

não é cíclica.

Nem só porcelana é que racha

É faxina que não cessa em vida

Juntar meteoritos de confiança.

Nem só a vista é que flagra

É posologia que não termina

Juntar indícios de ignorância.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Os meus vinte anos se vão

Existem coisas que necessitam de alguns ou muitos anos pra serem aprendidas.
Comer é melhor do que beber: mas a gente só escolhe uma coisa em detrimento da outra ou quando a barriga está caída ou quando o fígado está por uma seringa.
Paz é melhor que dinheiro: mas a gente só escolhe uma coisa em detrimento da outra ou quando a cabeça está fodida ou quando a conta está mais que garantida.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Sobre quando não passei o reveillon no Rio

CHOVIA, quando cheguei ao Rio. Tudo bem, eu não esperava uma recepção diferente disso. Também teria que ficar internada num hotel por quatro dias, então, whatever. Não fosse a gripe que me pegou tão logo botei meus pés fora do hotel. Uma semana depois, e eu ainda não entrara no mar. Não dava pra acreditar: o Rio continuava marrento do mesmo jeito.

Precavidamente, eu vim pra passar duas semanas. Não saio dessa cidade sem rever o Zé. Não quero dar em cima dele nem provocá-lo com assuntos remotos: estou abstenha de sadomasoquismo. Eu só quero vê-lo, olhar dentro daqueles olhos pincelados de amêndoa, rir quando ele abrir aquele sorriso de abre-alas e sentir um carnaval na boca do meu estômago, no meio de dezembro. Dar um cheiro no cangote dele quando eu for abraçá-lo, depois de uma ou duas tequilas. Despedir-me, desejar-lhe todo o sucesso do mundo, e ir embora com uma injeção extra de determinação pra terminar meu roteiro e dar pra esse cara um personagem à sua altura. Antes que todo o mundo descubra o talento e o charme que essa criatura possui e, então, eu não consiga mais pagar o seu cachê.

Tampouco vou embora sem rever o ex. Quando fui embora, há um ano, eu queria ver a cabeça desse homem numa bandeja antes de partir. Não vou dizer que foi fácil pra ele. Eu não sou fácil, nunca fui: dar de primeira é só um truque de ilusão de ótica que aprendi. É verdade que esse truque era mais divertido há alguns anos, mas não deixa de ser uma carta que se tem na manga. Não tenho precisado dela, mas sei que ela está lá. Não será com o meu ex que eu hei de usá-la, certamente. Nosso encontro trata-se de negócios: ele está com uma caixa cheia de coisas minhas, incluindo aí mais ou menos dez dos meus livros prediletos e algumas de minhas bijuterias de estimação. Não que eu seja materialista: depois que entreguei meu apartamento e saí doando minhas tralhas ou vendendo-as por preço de banana, desapego é a minha religião. A caixa, porém, tem um valor afetivo: são livros que estão sublinhados porque farei colagens e bijus que eu colecionei ao longo de viagens e não sei quando as farei novamente. Ficarei emocionada quando pegar a caixa, mas imagino que a emoção não será só por conta disso.

Hoje é a minha última chance pra entrar no mar antes desses encontros. Vou logo antes que perca a coragem.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Razão nenhuma pra escrever

Eu fico procurando razão pra escrever. Crio blogs compulsivamente. 99% são anônimos ou quase (porque é preciso divulgá-los, se não eu escreveria nas paredes do quarto e daria no mesmo). Eu não sei o que é isso, essa mania de reviver tudo através do texto. Quem vê metade do copo cheio, pode achar que é terapia. Quem vê metade do copo vazio, pode achar que é vício. Ou falta do que fazer. Eu só vejo um copo com água, e eu vou tomar esta água com ou sem sede.
Porque é isso o que eu faço. Seco o copo e fito o fundo. Mas não consigo encarar este fundo por muito tempo e, então, peço mais uma dose. É claro que eu to a fim.
Quantos blogs eu terei antes de escrever um livro? É mais fácil eu escrever um roteiro de curta e conseguir filmá-lo. Porque cinema não é literatura, nunca será. Por mais que a maioria dos que escrevem hoje em dia, escrevam, por assim dizer, de um jeito cinematográfico.
Na vida, tudo o que passa é frame.
Queremos as partes e não o todo. Não o fundo.
Queremos as citações e alguns capítulos da biografia; não ler a obra completa, ou mesmo um livro até o fim. Nada disso. É a era dos blogs, orkuts e twitters. Você pode escrever em qualquer lugar e escrever o que quiser, mas é limitado o número de caracteres a serem usados.
No blog, você até escreve o quanto quiser. Mas quem entra, acha que vai dar tanto tabalho ler um texto com mais de 500 caracteres quanto ler Ulisses.
Eu nunca li Ulisses.
Estou entre a vitrola e o Blue Ray.
Mas sigo escrevendo. Não sei se é literatura o quê faço. Pra mim, é música.